Sunday, October 02, 2005

A autenticidade
Creio que é difícil falar da autenticidade num sentido antropológico profundo. Os alunos não estão habituados quer a esta linguagem quer a este nível de reflexão. Por isso, o mais fácil é fazerem uma interpretação moralista do tema, tipo devemos ser autênticos, sinceros, verdadeiros para com os outros...
Por isso falámos da autenticidade a partir da experiência existencial de, numa vida de rotinas, sentir uma interrogação pelo sentido e acabar por abafá-la no consumismo, no álcool, na droga... E fizemo-lo num quadro de lógica existencial.
A autenticidade é, no fundo, a coerência ou a concordância de si consigo mesmo. Tal como a lógica é a concordância do pensamento com o próprio pensamento.
Aquele que afoga uma pergunta existencial, que se recusa responder-lhe, nega em si a pergunta, vive “como se” ela não existisse. Mas ela está lá, no subconsciente, a solicitar resposta. E acabará por surgir aqui ou além: num desconforto, numa indecisão, numa angústia mal reconhecida ou mal explicada...
A autenticidade é, no fundo, o segredo da felicidade: a coincidência de mim comigo mesmo e de mim com o mundo.Será que nos fizemos entender? Ou apenas pareceu que sim?

Sunday, September 25, 2005

Eu gosto e não gosto da minha escola

São fragmentos daquilo que os alunos duma das minhas turmas – 11º ano - escreveram. Fragmentos porque não era possível, nem desejável transcrever tudo. Importa ainda dizer que não se trata nem da radiografia do que pensa a turma, nem do que pensam os alunos no seu conjunto, porque não houve qualquer intenção estatística ou representativa a esse nível. É aquilo que é e vale o que vale. A palavra aos alunos. Sob anonimato.

«Em primeiro lugar deve-se dizer que a escola não é apenas um edifício, não é apenas um conjunto de espaços regidos por inúmeras regras e condições, não é simplesmente a construção da obediência nem da inteligência. É sim a abrangência da sabedoria acumulada da humanidade, um local de novas experiências, novos mundos, novos horizontes, metas e estradas a percorrer. Por conseguinte, uma escola deverá exigir tempo. Tempo de encontro, de encanto, de lazer, de arte, cultura, discussão, de ética e nomeadamente estética, de bem-estar, beleza e alegria. Por vezes nem sempre é assim pois o Homem – criador de tudo o que nos envolve, nomeadamente de uma simples escola - tanto tem em seu poder a criação e o embelezamento, como a destruição e a degradação da mesma.»

«A escola, na visão dos alunos, teria que ser perfeita, se possível o mais simples e o menos trabalhosa. Muitas vezes, o colega que está ao meu lado ou mesmo eu desconhecemos a importância e o porquê de frequentar a escola. [...] Eu gosto da minha escola, foi lá que encontrei e conheci grande parte dos meus grandes amigos. Foi também na escola que aprendi imensas coisas sobre o Mundo, as quais desconhecia.»

«Não gosto da minha escola porque tem horários muito complexos, não deixando muito tempo para os alunos se dedicarem a eles próprios. Não gosto ainda das horas de almoço muito monótonas (...) porque além de não haver música para animar as pessoas, há poucos espaços de lazer.»

«E onde reside a felicidade numa escola secundária? Não seria honesta e sincera se dissesse que a minha felicidade na escola se rege pelos manuais ou pelas equacções e fórmulas. Efectivamente, não. Seria necessário algo mais para que eu fosse plenamente feliz. E nesse espaço de felicidade que me faltava para ser feliz, encontrei professores com quem crio laços de amizade, que me apoiam quando preciso e que fazem da sua voz e sabedoria, mais do que um meio de nos ensinarem o que vem escrito nos manuais. As suas tarefas transformam-se em fórmulas de experiência, em lições de vida, em vozes de amigos. E não com menos importância que professores, achei os amigos e colegas com quem me reencontro todos os dias e partilho risos e tristezas, troco ideias e impressões. Amigos com quem posso falar e aprender a escutar. Amigos, quem sabe, de uma vida inteira.»

«Os aspectos negativos que a minha escola tem são horários maus em que a causa principal é 2h 15min de almoço desnecessários.»

«Na escola, eu não gosto que alguns professores e contínuos tratem uns alunos de uma forma e outros de outra.»

«O espaço que eu mais gosto na escola é a biblioteca. É agradável onde nos é permitido estar em contacto com a informação escrita (livros, jornais, revistas), com as tenologias (computadores, televisão) e com as pessoas que fazem parte da comunidade escolar. Eu não gosto do portão da entrada porque é de grades e isso faz-me lembrar uma prisão. Não gosto dos campos onde se faz educação física porque têm um aspecto muito betonizado e dos pátios porque têm poucas plantas. No que diz respeito às salas de aula, acho que têm cores tristes, as cadeiras e as mesas de algumas salas são muito pequenas e isso dificulta uma postura correcta e atenção ao decorrer da aula.»

«Uma das coisas que eu gosto na escola é a forma de pagamento. Como temos um cartão, não é necessário trazer dinheiro, evitando qualquer hipótese de furto ou intimidação dos alunos mais novos, podendo também evitar a compra de produtos não benéficos. Mas o que eu na realidade mais gosto é a bibliotecaque é ugar onde passo o tempo livre, onde posso desfrutar das mais variadas coisas... [...] Uma coisa que não gosto é haver discriminação entre alunos, isto é, existem alunos que marginalizam outros, só por serem diferentes, ou pela forma de vestir ou porque t~em outra maneira de estar, existindo muitos que pensam ser superiores.»

«Fascina-me pensar que os monges pisaram o mesmo chão que nós e que divulgaram a sua sabedoria cristã e instrutora do ponto de vista escolar, a qual ecoava pelas paredes que hoje nos rodeiam.»

«Não existem só coisas positivas na minha escola, existem também negativas e a que mais me incomoda é o facto das casas de banho estarem quase sempre sujas e cheias de fumo, em vez de estarem limpas para que todos as possam utilizar.»

«... acho que as aulas não deviam acabar às 17 horas e 30 minutos. É que, em vez de sairmos mais cedo, temos uma hora de almoço grande demais. [...] Outro do sproblemas mais intrigantes é o facto de que muitos alunos riscam as paredes e secretárias da escola e deitam o lixo para o chão. Esta atitude só degrada mais o estado da escola, que já não é nova.»

«Este ano, a comparar com o anterior, até melhorou. Para quem entrava às oito e meia e saía às cinco e meia todos os dias, uma tarde livre até dá jeito. O segundo ponto que eu acho importante nesta escola, que poderia mudar, é a quantidade de feriados que temos durante o ano, porque muitas vezes são matérias por dar e que se acumulam no fim do ano.»

«O local onde me divirto mais é na escola. Por isto a escola, para mim, é um local onde desejo estar. Mas também há coisa que não gosto numa escola, como, por exemplo, as aulas. Sei que nos são essenciais, mas mesmo assim não passam de ser uma seca.»

«Relativamente ao que gosto na minha escola, são as instalações, que são óptimas. Sobretudo uma parte das instalações que é muito importante, principalmente na área em que estou, os laboratórios. Considero-os bons locais de trabalho, neste caso, de trabalhos experimentais. Se assim não fosse, era complicado realizarmos as experiências, já que esta área exige a prática de trabalhos em laboratórios. E, acima de tudo, têm a segurança adequada no caso de ocorrer algum incidente.»

«Nestes 4 anos (...) as coisas que eu mais gostei (...) foram: as actividades que se faziam e os desportos que se praticavam, como por exemplo o tiro com arco, voleibol, basquetebol e futebol.»

«Em contrapartida há algo que eu não gosto na minha escola, algo que não tem a ver com a estrutura física, mas antes relacionada com a sociedade dentro da escola. O facto de os alunos se dividirem por bancos e de essa divisão interferir na relação entre os jovens. Há bancos, ou apenas cantos, “sítios”, que se destinam apenas a certos e determinados alunos: o banco do Pego, o da Chainça, o do Gavião, os pilares que ficam um pouco destinados às pessoas de Abrantes mas que é conhecido como o sítio dos betinhos e “populares”, e até uns cantos chamados “chungas”. Não que esta divisão esteja escrita em algum lado ou que haja letreiros a dividir as áreas destes grupos, mas isso não impede que existam e que uns rejeitem os “pilares” ou que os “pilares” rejeitem os outros, por exemplo. Ficamos assim um pouco prisioneiros no nosso “sítio”.»

«Eu não sei se gosto da minha escola. É certo que a minha realização pessoal depende dela, dado que um objectivo não se alcança sozinho, é necessária ajuda, vinda do estudo, professores, colegas, entre outros; no entanto, a realização pessoal (...) não depende só de um conjunto de estudos, depende também da nossa aderência a esse conjunto. Este facto remete para o gostar ou não do ambiente da escola. [...] ... o ambiente físico da escola está também a ser degradado. É que alguns alunos não respeitam o ambiente e não são capazes de manter uma escola limpa. Como exemplo, temos os chamados campos (onde se pratica educação física) que, por vezes, se encontram poluídos, chegando a haver pequenos montes de latas de refrigerantes e papéis. É necessário consciencializar os alunos desta escola para este facto, de modo a tornar o ambiente da escola mais agradável.»

«O ambiente entre os alunos é bom, mas há muita confusão, e a relação entre s e professores também é boa, de modo geral podemos falar abertamente com os professores. [...] De aspectos negativos temos o exemplo de algum pessoal não docente que por vezes não faz o seu trabalho como devia ser feito, beneficiando os seus conhecidos.»

«Antes de entrar para o liceu, não tinha muito boa impressão deste, contudo a minha opinião rapidamente mudou após suma semana do começo das aulas.»

«Outra coisa que gostaria de salientar é a falta de confiança entre professores e alunos. Para uma aula ser agradável, é necessária uma boa relação de confiança entre ambos, o que, muitas vezes, não acontece.»

«Há tempos em que nos sentimos encostados à parede, em que nos exigem mais e mais, em que o medo de um professor ou o medo de uma risada de um colega nos impede de participar livremente. Assim, a minha escola passou de um lugar de maravilha para um lugar de esforço e injustiça.»

«A forma como eu vejo a minha escola é apenas um instrumento à minha disposição. Ao ver o meu trabalho reconhecido e recompensado, tudo se torna belo, tudo se torna perfeito, até o mais burro professor ou a sala mais desconfortável. Pelo contrário, eu abomino tudo na minha escola quando olho à minha volta e vejo professores que apenas ali estão para receber o seu no final do mês, turmas com trinta alunos e salas insuficientes para tal, horários feitos somente para os professores...»

«A minha escola está longe, demasiado longe até, de ser a escola ideal. Resigna-se às actividades básicas de uma escola secundária, das quais nem todos os alunos estarão a par. Deste modo, esta escola não se destaca pela existência de algo inovador, diferente e aproveitado pelos jovens. O que desgosto profundamente nesta escola é a falta de mobilização dos alunos através da concretização de projectos ambiciosos e proveitosos para eles.»

«Acredito que uma escola se deve moldar segundo as necessidades dos jovens (...). Todavia, a maioria das vezes sinto que sou eu quem se molda a esse local de trabalho, estudo e lazer.»

«O grande valor de uma escola reside no facto de todos os princípios, valores e educação que os nossos pais nos transmitiram serem postos à prova no dia-a-dia de uma vida escolar. É principalmente durante este período que tudo aquilo em que até então vivíamos e acreditávamos é cimentado ou diluído, pois a sociedade escolar (amigos, colegas, professores, etc.) influencia-nos na formação da nossa personalidade e carácter. Este processo é por vezes difícil e mesmo doloroso pelo que talvez seja devido a isso que tantas pessoas não gostem nem nunca tenham gostado de frequentar a escola.»

«Estando aqui já há quatro anos, afeiçoei-me a ela, ao edifício que, apesar de um pouco degradado, me traz recordações dos bons e maus momentos que aí passei nos anos anteriores, e sobretudo as pessoas que me acompanharam ao longo desses anos.»
«As infra-estruturas é óbvio que não são as melhores, mas pessoalmente isso não é o mais importante, primeiro porque o que torna uma escola boa é a ligação entre os alunos, professores e contínuos. E segundo porque nos devemos habituar a enfrentar todas as situações e decerto que ao longo da nossa vida iremos nos deparar com infra-estruturas idênticas ou piores.»

O sentido da vida

Ainda na terceira aula, passámos para o tema do fim do livro. Já lhes tinha dito que faríamos assim: vamos em duas direcções, do princío para o fim e do fim para o princípio. Para contrariar a tendência de dar “o resto” a correr e para quebrar a monotonia de que eles tanto se queixam. E porque é importante manter aquelas reflexões no activo.
Falámos da vida rotineira, dos comportamentos não reflectidos. Felizmente. Não era possível reflectir e decidir sobre tudo. Quem, ao andar, decide conscientemente, mudar o pé de trás para a frente?
Mas não podemos viver apenas assim. Também temos de tomar decisões. E ao tomá-las, queremos saber se são boas ou más. Para isso, precisamos de saber para onde queremos ir. Ou seja, temos de ter objectivos. Por exemplo, passar de ano. Mas para quê?
E quando se colocam estas questões, só há duas vias possíveis: enfrentar o problema e procurar uma resposta ou... fingir que não há problema, fugir à questão e mergulhar... nas compras no shopping, nos jogos de computadores, no álcool, na droga... Mas nada disso resolve o problema. Isso são formas de incapacidade de encontrar a resposta que eu mesmo preciso.
A questão do sentido da vida, isto é, do que eu quero fazer da minha vida é a pergunta do nível mais elevado. Para ela há a resposta religiosa, por exemplo cristã que diz que o destino da vida é o céu, ou a budista que diz que é uma reencarnação posterior, ou ainda resposta do ateu que diz que com a morte tudo termina para aquele que morre, o que não resolve o problema ante o recoloca no contexto desta vida.- Sim, que quero eu fazer da minha vida? Que estou eu a fazer da minha vida? Que vida estamos nós a fazer nas comunidades em que vivemos?

A terceira aula

Começámos por sistematizar e ampliar a resposta à pergunta 2o que é a Filosofia?”
- análise (à lupa) das palavras que usamos: que queres dizer com...?
- interrogação sobre o sentido: das coisas, do mundo, do que fazemos, da vida
- produção de um novo sentido, quando o velho deixou de “fazer sentido”
- análise de textos e produção de textos (a pessoa começa pelo confronto com textos)
- construção pessoal de um modo de ser: interrogativo, crítico, reflexivo, justificador...
- cuidado (sobretudo académico) com o património filosófico de mais de 2.500 anos
A Filosofia é tudo isto... e muito mais. Mas estas são respostas que para eles fazem já sentido.

Depois, passámos à matéria “que vinha” para hoje a partir do compêndio. A começar pela Lógica. E escrevi no quadro:
Se A > B e B > C
Então A < C
E discutiu-se. À primeira vista a resposta foi imediata: é lógico.
Só depois viram que não, que não pode ser. Que é ilógico.
E perguntei o que quer dizer isso de Lógica, lógico e ilógico – olhar as palavras à lupa.
Enfim, as respostas chegaram aqui: acordo do pensamento consigo mesmo, estudo das regras do pensamento válido. O resto foi espreitar o livro e passar à diferença entre validade formal e verdade material. Com exemplos.
E os princípios lógicos fundamentais: de identidade, de não contradição e de terceiro excluído. Da lógica aristotélica. Aquela que governa o nosso dia a dia. A única que existiu até ao século XIX. Tal como a geometria euclidiana foi a única até então.
- Qual é a soma dos ângulos internos de um triângulo?
- 180º.
- Sempre?
- O nosso professor de Matemática diz que sim.
- Não quero saber do que diz o professor. Quero saber do que vocês pensam e dizem.
Não. Nem sempre é assim. O triângulo formado por dois quadrantes de meridiano e uma secção do equador mede 180º mais um ângulo que pode ir de o a 360º.
- Mas não pode ser, insistiam. Isso não é um triângulo. Não é formado por linhas rectas.
- Pois não. Mas numa esfera não se podem desenhar linhas rectas. No espaço, por exemplo quando se envia uma sonda, ela há percorre rectas. Portanto, nestes dois casos, aquele teorema dos 180º não tem qualquer validade. Ele, no entanto, continua válido para triângulos formados por um rectas sobre um plano não curvo. Repararam como um teorema, ou uma teoria, que tinham na cabeça vos obrigou a pensar que era impossível e dificultou que percebessem “outra coisa”? É sempre assim.
E passámos à Lógica.
- A lógica do terceiro excluído era a única existente, mas há outras. Por exemplo, um adolescente é dito como estando numa fase de duplo estatuto ainda é e já não é criança, ainda não é e já é adulto. Aliás. O texto pedido na aula anterior foi sobre a nossa escola e o tema era: eu gosto e não gosto da minha escola.A propósito. Disse-lhes que os textos estava, no geral, bastante bons, cuidados, com sinais de reflexão e capacidade crítica. Parabéns. Valeu a pena lê-los. E pedi-lhes autorização expressa para publicar alguns fragmentos dos seus textos no meu blogue. Os textos são vossos, se não quiserem que sejam publicados o que vai assinalado, têm todo o direito a fazê-lo.

A segunda aula

19 Set. Voltei a encontrar-me com os alunos da minha nova turma. Começámos por ler e analisar um texto que lhes havia mandado para leitura em casa. Passo a passo assistimos à lição definitiva de uma grande mestre. A um novo aluno, entregou um peixe para que o analisasse. O aluno olhou e assumiu que sabia tudo o que havia saber acerca do peixe. É sempre assim, os “sabões” sabem sempre tudo, mais que qualquer outro. Por isso, nunca vêem nada nem aprendem nada. Quem já tem a cabeça cheia não tem lugar para mais nada. Mas o professor deu-lhe a volta. E o aluno acabou por mudar de figura e começou a aprender.
- Percebem agora o que lhes disse na aula passada, que não é minha obrigação ensinar-vos?
Porque ninguém ensina nada a ninguém. Ou a pessoa aprende ou ninguém a pode substituir. Mas também ninguém aprende sozinho. Aprendemos uns com os outros. Assim, a minha função não é ensinar, mas criar oportunidades para que os alunos aprendam, se superem
O bom professor, ao contrário do que os alunos à primeira vista desejam, não é o que lhes faz festas, mas aquele que ajuda o aluno a ir mais longe do que iria sozinho. E é isso que os alunos verdadeiramente agradecem – depois.
Creio que foi um bom momento, um exemplo concreto de que são eles que aprendem - em situação.
E entrámos na Filosofia. A propósito:
- O que é isso de Filosofia?
Houve um sururu na sala. Uma pergunta, sobretudo deste género, é um perigo colectivo. Uma ameaça. Mas penso que estava já criado um ambiente que tornava a ameaça menos perigosa. E eles começaram, lentamente e sem tensões de maior, a dar princípios de resposta, que depois iam sendo completados pelos colegas. Colectivamente fomos elaborando um discurso de resposta à pergunta. E dissemos coisas bem interessantes. A Filosofia como esclarecimento de conceitos, como olhar para lá do senso comum, como levantamento de questões, como elaboração de novas respostas, como – por isso mesmo – um discurso fora do que é comumente aceite e, por isso, susceptível de causar estranheza ou mesmo rejeição naqueles a quem se dirige. Ah, e a Filosofia como um trabalho de fundamentação e justificação argumentativa.
- Ora aí está exactamente o tema inicial deste nosso ano.
E, pelo livro, falámos do programa e, de seguida, da avaliação. Mas sem esquecer que não vamos trabalhar para os testes, mas para a vida. Só que os testes também fazem parte da vida e são uma parte importante.
Mas não esquecer da diferença entre aprendizagem e avaliação. Costumo dizer:
- No tempo da aprendizagem, sou pago pelos vossos pais para vocês poderem aprender, podem contar com tudo o que estiver ao meu alcance. No tempo da avaliação, sou pago pelo resto da sociedade que querem saber, por mim, do que vocês são capazes, e aí não podem contar comigo.
E despedimo-nos com um voto comum de “boa semana”. Até porque, se não aproveitarmos esta, ela não voltará mais.

À tarde tive a turma que já foi minha no ano passado, de que fui e volto a ser director de turma. Não correu tão bem. Talvez por haver já mais à vontade, menos tensão de descoberta das primeiras horas. No essencial, repetiu-se o que havia feito com a outra turma, mas com menos efeito.As aulas são todas diferentes, mesmo quando são semelhantes porque a programação é a mesma. Por isso, não vou contar aqui as aulas de cada uma dar turmas.

De regresso às aulas

Primeiro dia. Tive uma turma nova, 11º B, 22 alunos, dos quais 3 já forma meus alunos no 10º ano. Que pensam os alunos sobre o professor no primeiro dia? Duma coisa estou certo, estudam-no. Para saberem o que os espera e para estudarem até onde podem ir. A primeira aula é decisiva, sei-o muito bem.
Apresentámo-nos e gostei muito que, logo uma das primeiras alunas a apresentar-se me tenha dito “... e não gosto de Filosofia”. É óptimo quando as pessoas podem dizer aquilo que sentem. Que tenham coragem para dizê-lo e que isso não lhes acarrete qualquer prejuízo. Os outros sentiram-se à vontade para dizerem o mesmo ou diferente. Pelo menos disseram-no.
Eu, pela minha parte, aproveitei para definir algumas regras que eu penso que devem ser sagradas na relação que vamos manter ao longo do ano.
Primeira regra. Direito à asneira. Não como palavrão ordinário, mas apenas a expressão de que está a aprender não deve ser obrigado a mostrar que sabe tudo. Aliás, no tempo de aprender, é mais importante a resposta errada que a certa – porque a errada permite a sua correcção. Já no tempo de avaliação é diferente: se possível, que não haja respostas erradas. Mas também aí... errar é humano.
Este direito à asneira implica duas consequências. Eu reconhecer-me o direito a errar, eu não Ter medo de errar. Se errar... corrige-se, que é para isso que cá estamos. E é a errar que se aprende, embora a escola não saiba. Além disso, cada um de nós tem de reconhecer aos outros o direito a errarem. Sem ser penalizado por risos castigadores. Se tiver piada, rimo-nos da piada, e não da pessoa, muito menos contra a pessoa.
Segunda regra. A sala de aula é uma lugar de trabalho. Uma oficina. “Os vossos pais não me pagam para eu vos fazer festas”, disse-lhes. Pagam-me para que saiam daqui mais capazes para a vida. “Não se criam competências só com ternura”, afirmei. E a medida do resultado do nosso trabalho está na diferença entre aquilo que cada um é hoje e o que será no último dia. Essa diferença é que é o importante.
Terceira regra. Não vamos estudar o livro. (Algumas caras de surpresa.) Vamos, sim, estudar pelo livro, que é uma coisa diferente. O livro é instrumento. O que vamos estudar é a Vida. A vida que vivemos e a que viveremos ao longo dos anos. E estudar a vida para vivê-la melhor.
“E, se me permitem, o grande objectivo da vida é só um: ser feliz hoje e em cada um dos dias da vida e, no momento final, sentir que valeu a pena e se salvou a vida vivida.” É isso mesmo que eu penso e que costumo dizer aos meus alunos. E sinto que é um objectivo que eles reconhecem como seu. Ser feliz hoje e amanhã e depois de amanhã. Por isso, não vale matar o dia de hoje para ser feliz amanhã. Nem ser feliz hoje à custa dos dias de amanhã e depois de amanhã.
Por isso, à despedida, disse-lhe, como costumo dizer: Sejam felizes, que o dia de hoje e o próximo fim-de-semana não volta.Senti que saímos amigos. Oxalá, que é a melhor cama para se deitarem os dias difíceis que também teremos.

Um esforço enorme

A divulgação de resultados como o do PISA é oportunidade para o acusação recorrente de que “a nossa escola não presta” ou de que “a educação vai pelas ruas da amargura” em Portugal.
É bom que se façam estudos como os do PISA, mas é também indispensável que se saibam ler.
O PISA só diz o que diz, não diz aquilo que o leitor dos resultados tem que levar consigo no acto de ler. Por exemplo, não diz que:
Estamos a dar o 12º ano a alunos cujo património escolar da família é a 4ª classe ou, já em menos casos, o 6º ano. Quantos países estão a fazer o mesmo?
Estamos a escolarizar os filhos de uma população que há 30 anos ainda tinha 30% de analfabetos e hoje ainda tem 10%, e tem ainda níveis escandalosos de iliteracia e uma analfabetismo mais ou menos militante contra a Matemática e as Ciências. Quantos países estão a fazer o mesmo?
Estamos a ensinar alunos em cujas casa não há livros, cujas famílias não vão ao cinema e menos ainda ao teatro e muito menos ainda a exposições. Quantos países estão a fazer o mesmo?
Estamos a tentar ensinar alunos de uma sociedade que não tem interesse pelo saber, onde a escola só serve para tirar diplomas, onde o estudo só serve para obter bons empregos, e nunca para ser mais eficaz na vida, tanto pessoal como social. Quantos países estão a fazer o mesmo?
Estamos a “obrigar a aprender” um número elevadíssimo de alunos que dizem declaradamente que «se querem que eu ande na escola, deviam pagar-me», pois «que é que eu ganho com isto?». Quantos países estão a fazer o mesmo?
Temos uma escola que explodiu em número de alunos e, necessariamente, explodiu também em número de professores, mas sem que estes tivessem sido formados para o exercício da profissão, antes foram engraxados para parecem em condições. Quantos países estão a fazer o mesmo?
Estamos a ensinar com escolas regidos por uma legislação que não só não facilita como até dificulta o exercício da função. Quantos países estão a fazer o mesmo?
E podíamos continuar. Mas chega. É mais que suficiente para dizer, ao arrepio do que vai na moda, que a nossa escola tem feito um esforço enorme, gigantesco, e com ele tem conseguido aquilo que nunca tinha sido obtido até agora. Porque, repita-se, é falso que a escola de antigamente fosse melhor do que a actual.O que não invalida, é evidente, que a escola actual tenha grandes problemas e que estes precisam de ser enfrentados. Mas a verdade é que quem parte de falsos diagnósticos, ou de análises preconceituosas, dificilmente pode encontrar um ponto de apoio para uma intervenção que, ainda por cima, muito dificilmente pode saber para onde vai. Porque quem não sabe donde vai, como poderá encontrar o caminho para onde há-de ir?

Não inscrição

José Gil escreveu no seu Portugal, hoje: o medo de existir, que em Portugal as coisas não se inscrevem na memória, que não aprendemos com os acontecimentos, que tudo se passa como se nada se passasse.
Pedro Ferraz da Costa, antigo presidente da Confederação da Indústria Portuguesa diz (Público, 2.5.05) que «as pessoas [em Portugal] têm medo do futuro e da verdade», «se lhes dissermos que, a viver assim [a consumirmos 30 a 40 % mais do que produzimos], estamos falidos dentro de 10 anos, respondem que pode ser que não e esquecem rapidamente».
Estêvão de Moura (Público, 2.5.05) diz que somos um país de larga maioria de católicos, mas que a doutrina católica não se torna manifesta no interior das organizações portuguesas. «Não é por falta de referenciais doutrinários que os católicos não intervêm mais na vida organizacional», escreve Estêvão de Moura. E eu acrescento, a pensar em José Gil: é porque são católicos como se não fossem, porque o seu catolicismo não se lhes inscreve na vida.Se fizermos a experiência profunda de uma escola, por exemplo secundária, vemos que a grande maioria dos nossos alunos anda na escola como se não andasse: estudam para o teste, ou seja, para esquecer logo de seguida. («Ó professor dê cá o teste depressa, antes que eu me esqueça.») Nada ou quase nada se lhes inscreve na vida, nada ou quase nada passa a fazer parte do seu património activo de conhecimentos e de solução testadas. Estuda-se para o teste, ou seja, para trocar o conhecimento por uma nota positiva, que com outras serão trocadas por um diploma, que servirá para conseguir um “bom emprego”. Ou seja, o conhecimento só tem valor de troca, não tem valor de uso. Por isso, os nossos alunos são dos piores a transpor para a vida aquilo que aprenderam. De facto, não aprenderam para a vida. Como os católicos não transpõem para a vida aquilo em que acreditam. Como os adultos não transpõem para o real as informações que lhes vão sendo dadas, como se a realidade pertencesse apenas ao reino do desejo.

A velha escola e a nova

Não sou, nem de longe, daqueles que pensam que a nossa escola, a escola de hoje, é uma miséria comparada com a escola de há umas décadas atrás, dita vulgarmente como "a escola do nosso tempo".

Não. A nossa escola tem problemas, mas não é pior que a escola de então. É preciso ter perdido a memória para pensar que a velha escola era melhor que a actual. O que se costuma fazer é comparar os melhores resultados de então com os piores resultados de hoje, mas isso é fazer batota.

A escola de há 40 anos, por exemplo, tinha (grosso modo) 30% dos alunos possíveis, o que significa que excluía 70%. A escola de hoje tem lá 70% dos alunos possíveis, o que significa que tem mais 40% ou que só exclui 30%. Se tirarem à escola de hoje os 40% de alunos que lá estão "a mais" em comparação com a velha escola, é mais que seguro que a escola de hoje fica muito melhor que a anterior.

A nossa escola é capaz de escolarizar mais 40% de alunos que a escola anterior. E isso é um resultado significativo, que só passa despercebido a quem tem dificuldades no olhar.

A velha escola excluía também os professores que não queria. Se a nossa escola excluir os professores que não quer (não digo que deva fazê-lo), talvez os resultados se tornem superiores.

Não, não é verdade que a velha escola se afirme imediatamente como melhor que a actual. É até possível, com fundamentação objectiva, dizer que a escola actual é melhor.

A verdade é que, quando olhamos para os resultados da velha escola, não vemos essa extraordinária qualidade que nos apregoam.

Avaliamos os índices de iliteracia e os resultados são catastróficos. Se os alunos saíam todos tão sábios e tão inteligentes, que foi feito deles que, agora, ficaram quase todos iletrados funcionais?

Quando olhamos os índices de formação e qualificação da nossa população activa, ficamos humilhados perante a Europa e o Mundo desenvolvido. Onde estão os extraordinários resultados da velha escola?

Quando vemos as pessoas que vão responder a concursos de televisão, que são entrevistadas em inquéritos de rua, que mostram de outras mil maneiras a sua capacidade de resposta, não conseguimos encontrar os milagres da velha escola. Para onde foram?

Quando olhamos para a nossa população activa e procuramos as capacidades que fazem falta: aplicação a novas situações, disposição para inovar, capacidade para trabalhar com outros, disponibilidade para aprender, etc., vemos que a formação que tiveram "naquele tempo" produziu como resultado aquilo que hoje nos prende à incapacidade de evoluir.

A nossa sociedade não reconhece grande valor ao saber, embora mostre o maior interesse por títulos, não pretende aprender embora pretenda conservar as posições adquiridas, não quer mudar mas espera conservar tudo o que tem, etc. Foi esta sociedade que a escola anterior produziu e, sejamos justo, reproduziu. Onde estão os supostos brilhantes resultados da escola de ontem?

Quando olhamos o que as pessoas lêem, os programas de televisão que preferem, os discos que fazem maior sucesso, os filmes que (não) vêem, etc., temos de perguntar pelos resultados heroicos da tão cantada velha escola.

Há, é ecidente, um monumental erro de avaliação, ou de perspectiva.

São, é evidente, os representantes de uma pequena minoria de então que agora SE quer ver ao espelho na enorme maioria dos escolarizados de hoje. Mas isso é, mais uma vez, fazer batota. Nem ontem a média era aquilo que hoje, com base nos melhores, se supõe que era, nem hoje a média é aquilo que, com base nos piores, se afirma que é. Sem a mínima dúvida, a escola de hoje tem tantos alunos brilhantes como a de ontem. Não, tem mais, muito mais.

Não é verdade que os alunos de hoje saibam menos que os de ontem. Pelo contrário. Embora possa ser verdade que os alunos de hoje, em geral, percam na comparação com os de ontem em alguns aspectos. Mas não no geral. Tenho disso a maior certeza, embora não haja estudos que demonstrem o que digo - mas também não há os que demonstram o contrário.
Repito. A escola de hoje tem problemas. Que devem ser resolvidos. Mas não é um problema o ela ser pior que a de ontem. Pelo contrário, a afirmação de que ela é pior é parte não só do problema como da nossa incapacidade para alterar o que deve ser mudado, isto é, para fazer o que há a fazer.

Para um Governo
Para o mandato do Governo na Educação, há uma ideia simples mas que pode fazer História:
centrar a acção do Governo onde se faz educação.
E a educação (de que trata o Ministério) faz-se em dois lugares: na escola e no território educativo de base.
O território educativo de base é o concelho. Então, há que rever a legislação do Conselho Local de Educação e operacionalizar a acção do mesmo CLE como entidade estratégica de concertação local de uma política educativa articulada entre os vários parceiros. Não é a nível nacional que se podem fazer optimizações locais.
A escola é o grande local onde se faz educação. Assim como o Ministério da Saúde age através do Centro de Saúde e do Hospital, também o M. da Educação age através da escola. É a escola que faz ou não faz, que educa/ensina ou não, que obtém resultados ou não. Por isso, há que centrar aí o processo.
A escola, embora assumindo um projecto nacional, mas assumindo-se também como agente de política educativa local, deve ter um projecto e um plano de acção, deve torná-lo público (por exemplo na Internet), deve agir em parceria com os que são de facto seus parceiros, e deve prestar contas das suas realizações.
A escola não é apenas uma "coisa que funciona" sob a responsabilidade do Ministério. Não é apenas terminal periférico de um monstro central. A escola é, quase nada ou muitíssimo, uma unidade activa com acção e reacção, pouca ou muita, às necessidades nacionais e locais. (E mundiais, mais não compliquemos aqui.)
O que precisamos é que a escola seja activa, e não que funcione por inércia, que tenha uma política responsável e que responda por ela, que saiba o que faz e que dê a sabê-lo.
Só por aí pode haver resultados inovadores. E históricos.O resto, as supostas "reformas educativas", só valem na medida em que foram adoptadas pela escola. E a escola tem um poder imenso, para assimilar às suas práticas qualquer desejo de reforma.

Recentrar a escola
Para que a escola possa cumprir as suas funções, é necessário recentrá-la. (Não basta centrar o Sistema Educativo na escola.) É preciso recentrar a escola no acto pedagógico eficaz e eficiente.
É certo que a escola é, ou parece, funcionar com base na aula. Mas eu não falo de aula, mas, repito, de acto pedagógico eficaz e eficiente: a aula, a visita de estudo, uma prova de desporto escolar, uma programa de rádio escolar, a organização de uma exposição ou de um colóquio... eficazes e eficientes
E digo "eficaz e eficiente" porque não basta que uma aula seja "dada", é preciso que os alunos aprendam, que haja uma diferença entre o antes e o depois. E que essa diferença seja a desejada e seja obtida com uma racionalidade dos meios investidos.
Ora basta olhar para muito do que se passa na escola para vermos que há professores que ensinam sem que os alunos aprendam, há todo um discurso negativo sobre os alunos e a nova geração e não há sequer um pensamento estratégico sobre o que fazer com eles, há uma retórica docente que dá alguma tranquilidade mas que não tem qualquer valor senão para a própria escola.
É necessário olhar a escola como uma unidade destinada a produzir certos efeitos pessoais e sociais. Por isso, a escola em primeiro lugar e a sociedade no seu conjunto, também, têm de saber o que à escola cabe fazer e em que medida o faz. Porém, atrevo-me a dizer que parece ninguém saber do que se trata, a não ser através de um discurso sem conteúdo.
Além disso, deveríamos ver a escola a utilizar instrumentos variados de diagnóstico e medidas qualificadas de intervenção eficaz e eficiente, e a fazer uma avaliação de qualidade. A verdade, porém, é que esses instrumentos de diagnóstico em geral não existem e as terapias, para usar a metáfora médica, não passam de mezinhas do senso comum, e a avaliação não é mais do que uns papéis para satisfazer obrigações. (Falo da escola, não me refiro à aula.) Não admira, por isso, que as queixas sejam tantas e os insucessos tão elevados. E ninguém esteja contente.

Para um Governo

Para o mandato do Governo na Educação, há uma ideia simples mas que pode fazer História:
centrar a acção do Governo onde se faz educação.
E a educação (de que trata o Ministério) faz-se em dois lugares: na escola e no território educativo de base.
O território educativo de base é o concelho. Então, há que rever a legislação do Conselho Local de Educação e operacionalizar a acção do mesmo CLE como entidade estratégica de concertação local de uma política educativa articulada entre os vários parceiros. Não é a nível nacional que se podem fazer optimizações locais.
A escola é o grande local onde se faz educação. Assim como o Ministério da Saúde age através do Centro de Saúde e do Hospital, também o M. da Educação age através da escola. É a escola que faz ou não faz, que educa/ensina ou não, que obtém resultados ou não. Por isso, há que centrar aí o processo.
A escola, embora assumindo um projecto nacional, mas assumindo-se também como agente de política educativa local, deve ter um projecto e um plano de acção, deve torná-lo público (por exemplo na Internet), deve agir em parceria com os que são de facto seus parceiros, e deve prestar contas das suas realizações.
A escola não é apenas uma "coisa que funciona" sob a responsabilidade do Ministério. Não é apenas terminal periférico de um monstro central. A escola é, quase nada ou muitíssimo, uma unidade activa com acção e reacção, pouca ou muita, às necessidades nacionais e locais. (E mundiais, mais não compliquemos aqui.)
O que precisamos é que a escola seja activa, e não que funcione por inércia, que tenha uma política responsável e que responda por ela, que saiba o que faz e que dê a sabê-lo.
Só por aí pode haver resultados inovadores. E históricos.O resto, as supostas "reformas educativas", só valem na medida em que foram adoptadas pela escola. E a escola tem um poder imenso, para assimilar às suas práticas qualquer desejo de reforma.

Via Ápia

EDUCANTES. Aqueles que educam, ou seja, todos nós. Educar no seu sentido activo, os agentes da educação. Educar como acção, compromisso, mãos no barro, pés ao caminho.
Educar antes, ou seja, mais vale prevenir do que remediar. E ainda: antes educar do que...
Mas também pode ser: educar em Abrantes, que é onde vivo e a partir donde reflicto.
Sou professor e há muito que procuro pensar aquilo que faço. Lecciono há mais de 30 anos, mas continuo a procurar desafios para me manter fresco. Vai daí... Já tinha um blogue, Abranteimas, em que falo das minhas teimas por Abrantes. E comecei a escrever sobre o meu novo ano lectivo, sobretudo a partir da primeira turma que encontrei este ano.
Também, em tempos, iniciei, mas não continuei, um blogue sobre educação. Mas não gostava do nome.
Então, decidi iniciar um novo blogue dedicado a todos os que se interessam por esta coisa da educação, sem esquecer os meus alunos. Começo por recuperar o que editei no blogue que abandono e o que escrevi no Abranteimas sobre a minha relação com os meus alunos. Depois, iremos em frente. Talvez recupere textos anteriores...
Creio que é um desafio interessante. Ou seja, talvez capaz de interessar outros além de mim.A ver vamos.