A velha escola e a nova
Não sou, nem de longe, daqueles que pensam que a nossa escola, a escola de hoje, é uma miséria comparada com a escola de há umas décadas atrás, dita vulgarmente como "a escola do nosso tempo".
Não. A nossa escola tem problemas, mas não é pior que a escola de então. É preciso ter perdido a memória para pensar que a velha escola era melhor que a actual. O que se costuma fazer é comparar os melhores resultados de então com os piores resultados de hoje, mas isso é fazer batota.
A escola de há 40 anos, por exemplo, tinha (grosso modo) 30% dos alunos possíveis, o que significa que excluía 70%. A escola de hoje tem lá 70% dos alunos possíveis, o que significa que tem mais 40% ou que só exclui 30%. Se tirarem à escola de hoje os 40% de alunos que lá estão "a mais" em comparação com a velha escola, é mais que seguro que a escola de hoje fica muito melhor que a anterior.
A nossa escola é capaz de escolarizar mais 40% de alunos que a escola anterior. E isso é um resultado significativo, que só passa despercebido a quem tem dificuldades no olhar.
A velha escola excluía também os professores que não queria. Se a nossa escola excluir os professores que não quer (não digo que deva fazê-lo), talvez os resultados se tornem superiores.
Não, não é verdade que a velha escola se afirme imediatamente como melhor que a actual. É até possível, com fundamentação objectiva, dizer que a escola actual é melhor.
A verdade é que, quando olhamos para os resultados da velha escola, não vemos essa extraordinária qualidade que nos apregoam.
Avaliamos os índices de iliteracia e os resultados são catastróficos. Se os alunos saíam todos tão sábios e tão inteligentes, que foi feito deles que, agora, ficaram quase todos iletrados funcionais?
Quando olhamos os índices de formação e qualificação da nossa população activa, ficamos humilhados perante a Europa e o Mundo desenvolvido. Onde estão os extraordinários resultados da velha escola?
Quando vemos as pessoas que vão responder a concursos de televisão, que são entrevistadas em inquéritos de rua, que mostram de outras mil maneiras a sua capacidade de resposta, não conseguimos encontrar os milagres da velha escola. Para onde foram?
Quando olhamos para a nossa população activa e procuramos as capacidades que fazem falta: aplicação a novas situações, disposição para inovar, capacidade para trabalhar com outros, disponibilidade para aprender, etc., vemos que a formação que tiveram "naquele tempo" produziu como resultado aquilo que hoje nos prende à incapacidade de evoluir.
A nossa sociedade não reconhece grande valor ao saber, embora mostre o maior interesse por títulos, não pretende aprender embora pretenda conservar as posições adquiridas, não quer mudar mas espera conservar tudo o que tem, etc. Foi esta sociedade que a escola anterior produziu e, sejamos justo, reproduziu. Onde estão os supostos brilhantes resultados da escola de ontem?
Quando olhamos o que as pessoas lêem, os programas de televisão que preferem, os discos que fazem maior sucesso, os filmes que (não) vêem, etc., temos de perguntar pelos resultados heroicos da tão cantada velha escola.
Há, é ecidente, um monumental erro de avaliação, ou de perspectiva.
São, é evidente, os representantes de uma pequena minoria de então que agora SE quer ver ao espelho na enorme maioria dos escolarizados de hoje. Mas isso é, mais uma vez, fazer batota. Nem ontem a média era aquilo que hoje, com base nos melhores, se supõe que era, nem hoje a média é aquilo que, com base nos piores, se afirma que é. Sem a mínima dúvida, a escola de hoje tem tantos alunos brilhantes como a de ontem. Não, tem mais, muito mais.
Não é verdade que os alunos de hoje saibam menos que os de ontem. Pelo contrário. Embora possa ser verdade que os alunos de hoje, em geral, percam na comparação com os de ontem em alguns aspectos. Mas não no geral. Tenho disso a maior certeza, embora não haja estudos que demonstrem o que digo - mas também não há os que demonstram o contrário.
Repito. A escola de hoje tem problemas. Que devem ser resolvidos. Mas não é um problema o ela ser pior que a de ontem. Pelo contrário, a afirmação de que ela é pior é parte não só do problema como da nossa incapacidade para alterar o que deve ser mudado, isto é, para fazer o que há a fazer.
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